Em 2010 e 2011 defendi que Portugal necessitava de pedir ajuda à UE e ao FMI para controlar a dívida pública e os juros galopantes (e continuo a achar que tinha razão, mas não pelas razões que aponto a seguir).
Acreditava (como se confirmou depois) que as nossas contas públicas não eram verdadeiras, que existia muito mais défice escondido e muitas manobras contabilísticas que estavam a ser feitas para ocultar a verdadeira dimensão do problema.
Foi por essa razão (falta de rigor, de dados e de transparência) que defendi a vinda da assistência externa, mesmo sabendo o preço a pagar. Como já pensava na altura, a vinda da troika acabaria por ser um mal menor se isso significasse conhecermos a verdadeira dimensão do problema e se isso representasse uma verdadeira reforma de todos os problemas que o nosso país têm.
Quando li o memorando original vi lá espelhados os verdadeiros problemas que Portugal tem: justiça ineficiente, rendas energéticas excessivas, impostos desequilibrados, demasiados subsistemas de saúde, gastos desnecessários, setores protegidos, empresas do estado completamente mal geridas, burocracias desmensuradas para a economia, enfim, um sem-número de asneiras, compadrios e favores que o Estado andou a fazer a meia dúzia de famílias e grupos económicos ao longo dos últimos 20-30 anos.
Não me pareceu lá grande ideia algumas das propostas para solucionar estes problemas, mas sempre me convenci que, estando a UE e o BCE envolvidos na Troika, as coisas iriam ter algum tipo de regra e de zelo.
Dois anos volvidos e 9 avaliações depois, está quase concluída a verdadeira missão do FMI, que conseguiu igualmente levar a reboque uma UE acéfala e um BCE manietado pela influência da banca alemã: a troika não veio a Portugal para resgatar o país! A Troika veio a Portugal para resgatar os grandes fundos das seguradoras e pensões internacionais e a banca internacional, para além de proteger o sistema bancário nacional!
Em Abril de 2011, antes da Troika começar a mandar por cá, 32% da dívida pública portuguesa estava nas mãos dos Portugueses (10% dos quais nas famílias e 5% nas mãos do próprio estado, através do Fundo de Pensões da Segurança Social). Ou seja, 68% da nossa dívida pública estava nas mãos de credores internacionais.
Em Julho de 2013 (altura prevista para a 8.ª avaliação), 35% da dívida pública esta em mãos portuguesas (essencialmente banca e seguros), mas apenas 22% da dívida está em mãos estrangeiras, uma vez que a TROIKA já absorveu para si 43% da dívida pública.
E qual é o objetivo?
Simples: com menor exposição dos credores internacionais as probabilidades de contágio em caso de default de Portugal (entrar em incumprimento, como aconteceu na Grécia) são cada vez menores.
Porque é que estou revoltado?
Porque acredito que era precisamente este o grande objetivo da TROIKA! Querem lá eles saber se as reformas que tão necessárias eram estão a ser feitas e muito menos se estão a produzir resultados!
Mesmo que nada fosse feito pelo (des)governo atual, íamos continuar a passar todas as avaliações, uma após outra, até que toda a dívida pública portuguesa pertencente a estrangeiros esteja nas mãos da TROIKA ou do Fundo de Pensões da Segurança Social, como o comprova a autorização de Vítor Gaspar para o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) investir até 90% na dívida pública portuguesa (mais 4.000 milhões de euros).
Aqui chegados, o que podemos fazer?
Bem, não sendo economista nem sequer alvitro palpites, mas talvez devêssemos olhar para o exemplo italiano!
A Itália desde que me lembro sempre teve uma dívida pública superior ao seu PIB, mas nunca, como agora, sentiu dificuldades em financiar-se. Porquê? Porque até ao início dos anos noventa, mais de 90% dessa dívida era detida pelas famílias italianas e, por isso, os riscos de contágio em caso de default eram mínimos (já para não falar que a Itália tem indústria, agricultura, etc., coisas que Portugal começa agora lentamente a recuperar).
Numa altura em que os níveis de poupança dos Portugueses (os que ainda podem) nunca foram tão altos, porque raio é que este governo (ou outro qualquer) não permite aos particulares investir em dívida pública?
Garantidamente ficávamos menos expostos aos agiotas estrangeiros!
Mas não, é preferível continuarmos nas mãos da Troika...
Talvez fosse melhor perguntar à Alemanha o porquê...
P.S. - Já agora, fica esta informação: em 1974 a dívida pública era de aproximadamente 15%...
Fontes:
http://www.ionline.pt/artigos/portugueses-tem-50-mil-milhoes-da-divida-publica
http://www.ionline.pt/artigos/investidores-estrangeiros-estao-fugir-da-divida-portuguesa
http://www.ft.com/intl/cms/s/0/00dd6b34-e955-11e2-9f11-00144feabdc0.html#axzz2Z9FVabOR
http://oinsurgente.org/2013/07/10/quem-detem-a-divida-publica-portuguesa/
http://economico.sapo.pt/noticias/resgate-da-divida-de-portugal-e-bom-negocio-para-paises-ricos-da-europa_122776.html
http://www.ilfattoquotidiano.it/2011/11/30/audit-debito-anche-italia/174037/
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