6 - Administração pública e corrupção (nove medidas)
6.1 - Transformar o combate à corrupção numa prioridade nacional e operacionalizar plenamente o Plano Nacional Contra a Corrupção.
Ora bem, para além de um PNCC (Plano Nacional Contra a Corrupção), precisamos é de uma PECC (Polícia Especializada em Crimes de Corrupção)! Já referi antes as forças policiais e o ministério público necessitam de investimento em meios físicos e humanos para combater eficazmente a corrupção. Entendo que toda a investigação sobre corrupção deve estar centrada numa task-force que tenha elementos das forças de segurança (PSP e GNR), polícia judiciária, ministério público, AT, Tribunal de Contas e Entidades Reguladoras. Só trabalhando em conjunto e tendo acesso a todos os meios públicos poderemos dar força suficiente ao combate à corrupção.
6.2 - Atacar o contrabando de combustível e tabaco, monitorizar os preços de bens importados (para evitar perdas de receita durante o processo de importação), e combater a lavagem de dinheiro. O governo pretende fixar, imediatamente, metas de receita ambiciosas, nestas áreas, para serem perseguidas, sob a coordenação do recém-criado cargo de Ministro de Estado.
Em Portugal o principal destes problemas é a lavagem de dinheiro. Basta vermos o que se passa entre Portugal e Angola (mas não só) para se perceber que a lavagem de dinheiro tem de ser combatida com a mesma intensidade da evasão fiscal e da corrupção.
6.3 - Reduzir (a) o número de ministérios (de 16 para 10), (b) o número de "assessores especiais" no governo; e (c) os benefícios extra (fringe benefits) de ministros, parlamentares e altos funcionários (por exemplo, carros, despesas de viagem, subsídios)
Relativamente aos ministérios e secretarias de estado, eu até os aumentava cá em Portugal. Já explico porquê. No entanto, a principal mudança seria a criação da carreira pública de assessoria. Não faz sentido nenhum a dança de lugares e o rodopio de nomeações cada vez que muda um governo. O estado devia ter especialistas em todas as áreas onde tem intervenção permanente que prestem assessoria de qualidade ao governo em funções, seguindo as instruções e definições ideológicas desse mesmo governo, sem criarem entropias, entraves ou barreiras por razões políticas ou pessoais.Tal como numa empresa qualquer diretor executa as instruções da administração (quando não concorda com elas deixa claro a sua discordância mas o seu profissionalismo permite-lhe executar as ordens) também no estado temos de acabar com esta sucessão de asneiras, entropias e problemas, que levam depois os governos a terem de recorrer a assessorias externas para fazerem trabalhos que os funcionários públicos tinham obrigação de fazer com profissionalismo e isenção.
Aumentar nas condições anteriores os ministérios e secretarias de estado acabaria por reduzir custos e não aumentá-los.
Já no que diz respeito aos deputados, para além dos círculos uninominais (vá lá partidos, não tenham medo de perder o exclusivo), reduzia o número de deputados para 1 deputado por cada 100.000 habitantes, majorando todos os distritos do interior do país e regiões autónomas com dois deputados adicionais. Não precisamos de mais de 120 a 150 deputados em Portugal. Os deputados seriam remunerados com base na média dos últimos 5 anos de descontos, com um mínimo de 5 salários mínimos e um máximo de 20 salários mínimos. Se queremos políticos de qualidade, temos de estar dispostos a suportar esse custo.
Acabava com todas as frotas de viaturas e motoristas, mantendo um número mínimo de veículos ao serviço da assembleia da república e obrigando os deputados a deslocarem-se em transportes públicos. Não por demagogia, mas para os obrigar a manter o contacto com a população e com a realidade do dia a dia.
As restantes regras de apoios do estado em deslocações e ajudas de custo já estão bem como estão.
6.4 - Apertar a legislação relativa ao financiamento dos partidos políticos e incluir níveis máximos de endividamento junto de instituições financeiras ou outras.
Os partidos políticos devem ser financiados exclusivamente pelo Estado. Ponto final. Atenção a um pequeno grande detalhe: a democracia tem custos e temos de estar preparados para os suportar. Aplico aqui uma excelente reflexão, adaptada a este assunto: acham que a democracia é cara? experimentem a ditadura! Ups, já a experimentámos antes, por isso já sabemos o resultado.
6.5 - Ativar imediatamente a atual (embora dormente) legislação que regula as receitas da comunicação social (imprensa e eletrónica), assegurando (através de leilões devidamente concebidos) que pagam os preços de mercado das frequências utilizadas, e proíbe a continuação da operação de meios de comunicação permanentemente deficitários (sem que haja um processo transparente de recapitalização).
Nós por cá temos uma herança do anterior governo que é inconcebível: a TDT. Não se pode aceitar o método atual. Na realidade, o objetivo da PT era distribuir o MEO (ou algo similar) através da subscrição paga em TDT. Isso tem de acabar e já. Imediatamente colocaria todos os canais da RTP em sinal aberto e abriria frequências regionais para as televisões locais / regionais. O espectro disponível é mais do que suficiente para termos 10/15 canais em sinal aberto.
6.6 - Estabelecer um quadro institucional transparente, eletrónico e em tempo real para concursos públicos (procurement) - restabelecendo o DIAVGEIA (um registo público on-line das atividades relativas aos contratos públicos).
Tal como referi anteriormente, o nosso sistema de Contratos Públicos já é bom e precisa apenas de umas afinações que lhe confiram maior transparência. Terminava imediatamente com o monopólio das plataformas de compras públicas, desonerando o sistema atual de concursos públicos.
6.7 - Reformar a grelha salarial do setor público com vista a descomprimir a distribuição salarial através de ganhos de produtividade e políticas de recrutamento apropriadas, sem reduzir os mínimos salariais atuais, mas salvaguardando que custo salarial do setor público não aumenta
Tal como já referi anteriormente, toda a tabela salarial da função pública tem mesmo de ser uniformizada. Se nas empresas concordo com prémios de produtividade, no estado isso não faz sentido (muito menos subsídios para combater o absentismo!).Também já referi que a CReSAP tem de ver as suas competências reforçadas e todas as admissões no estado têm de ser por concurso público.
É preciso convergir os valores médios dos salários pagos no estado com os valores médios do setor privado. Isso tanto será válido para os valores que estão acima da média (que devem ser reduzidos) como para os valores abaixo da média (que devem ser aumentados). O estado tem de ser capaz de captar pessoas de qualidade ao setor privado, que possam trazer mais valias ao funcionamento do estado e não pode continuar a pagar salários demasiado elevados por trabalhos menos qualificados. Aliás, é aqui que eu aceito a discussão de regimes de outsorcing a privados: nas funções administrativas e pouco técnicas, o estado conseguiria o mesmo serviço por valores menores, podendo concentrar o esforço financeiro nos recursos humanos mais qualificados que muita falta fazer ao estado.Estas medidas seriam acompanhadas de um programa de qualificação dos trabalhadores menos qualificados, para que pudessem progredir na carreira e não serem prejudicados. Sempre com avaliações de desempenho e concursos públicos para progressão na carreira.
6.8 - Racionalizar benefícios não salariais, para reduzir a despesa global, sem pôr em risco o funcionamento do setor público e de acordo com as boas práticas da UE
Embora o governo de Tsipras insista na carta que pretende cortar na despesa não salarial e não relacionada com pensões, os custos salariais (remuneração base e suplementos) são outras das áreas onde pretendem fazer alterações. O compromisso, tal como aconteceu em Portugal, é não usar a tabela salarial para reduzir salários e, no caso dos outros benefícios, não comprometer o funcionamento do sistema. A Grécia teve uma rápida redução do número de funcionários públicos (ver gráfico) só que, faz parte do programa eleitoral do Syriza, reintegrar muitas destas pessoas. Na carta a Bruxelas, essa questão não é referida mas qualquer reintegração pode limitar a margem para não cortar salários e benefícios que é, já de si, bastante reduzida. Tudo vai depender da margem orçamental que a Grécia tiver, nomeadamente de não ter que chegar a excedentes primários (sem juros) de 3% do PIB este ano e 4,5% em 2016.
Já o disse antes e repito-o: racionalizar não é sinónimo de cortar. Isso parece ter sido uma adaptação linguística deste governo mas para mim racionalizar benefícios não salariais significa pagar estes benefícios quando se justifica a sério. Naturalmente que isso significaria a redução efetiva salarial de muitos funcionários do estado e das empresas do estado. A justiça social sobrepõe-se aos direitos adquiridos, lembram-se?
6.9 - Promover medidas para: melhorar os mecanismos de recrutamento, incentivar nomeações com base no mérito, avaliar de forma genuína as equipas, e estabelecer processos justos para maximizar a mobilidade dos recursos humanos e outros recursos dentro do setor público
Sobre o resto já falei. Vou falar agora da avaliação de desempenho. TODOS os funcionários públicos têm de ser submetidos a avaliações de desempenho, em dois níveis: o nível interno, anual e organizado pelos departamentos aos quais estão ligados e um nível externo, promovido por uma entidade independente ao estado, que poderia perfeitamente ser o INE. Deste segundo nível de avaliação, promovido a cada dois ou três anos, dependeria a possibilidade de progressão na carreira. Nesta avaliação externa, duas avaliações negativas obrigariam a um mecanismo de requalificação e três avaliações consecutivas negativas dariam lugar ao despedimento com justa causa.
Para todos os funcionários públicos em carreiras técnicas superiores (incluindo as áreas da saúde, da educação, etc,) existiria ainda uma avaliação específica de conhecimentos técnicos, com as mesmas implicações e regras da avaliação externa, mas desta vez promovida pelas universidades/politécnicos públicos de referência nos diferentes setores.